08/09/2024
Comédia Animação

Bizarros peixes das fossas abissais

Uma mulher com poderes bem peculiares une-se a uma tartaruga com TOC e uma nuvem com incontinência urinária. Juntos, viajam ao fundo do oceano para descobrir quem realmente são.

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Bizarros peixes das fossas abissais é um título peculiar para uma animação, também, bastante particular. O filme marca a estreia em longas do premiado diretor de curtas Marão, que leva ao longa seu humor particular mostrando que o sucesso de seus curtas não era por acaso. 

O filme é protagonizado por uma mulher com poderes e até um físico peculiar: tem um gorila na sua bunda, literalmente. Dublada por Natália Lage, essa é uma figura ímpar, no fundo, em busca da compreensão de si mesma num mundo que é adversário dela – talvez, simplesmente, pelo fato de ser mulher. A ela se une uma pequena tartaruga com um comportamento obsessivo, dublada por Rodrigo Santoro, e uma nuvem com incontinência pluvial, com a voz de Guilherme Briggs. 

Esse trio de personagens permitem ao diretor e ao filme transitar por momentos de comédia divertida e, fazendo justiça ao título, bizarra. Muitas vezes, a animação é minimalista, sofisticada em seus traços aparentemente simples, mas que, certamente, deram trabalho. Por isso mesmo, são de uma beleza estética particular. Não havia como fazer um filme como esse de forma convencional. Isso tudo deve causar um estranhamento – o que é muito bem-vindo, tirando o público da zona de conforto da animação que busca um realismo, ao menos visual. O tom da dublagem também contribui para isso.

A jornada dos personagens é real, mas também metafórica, no sentido de aceitação e compreensão de si mesmos, num mundo onde são sempre ostracizados, quando não abusados. Nesse sentido, Bizarros peixes das fossas abissais pode parecer estar indo no rumo das típicas animações infantis, mas não é bem assim. Marão injeta em seu filme um humor marcante, fazendo dele quase um alienígena no cinema brasileiro. 

A técnica da animação solta algumas amarras à quais o cinema convencional está preso. Assim, aqui há mais liberdade, mais voos da imaginação. O próprio fundo do mar abissal com seus peixes bizarros é um exemplo disso. Esse habitat impressiona com suas criaturas, inspiradas em animais reais. E, de certa forma, esse é um filme bastante ousado, em sua exploração particular da temática da identidade, ou mesmo ao colocar um monólogo de uns 3 minutos com a tela completamente preta – e a gente nem percebe que dura tudo isso. 

 

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