A comédia O Bem- Amado, de Guel Arraes, atualiza e também amplia os significados da peça de Dias Gomes, chamada Odorico, O Bem Amado ou Os Mistérios do Amor e da Morte, escrita em 1962, que deu origem à famosa novela (exibida em 1973) e série (exibida entre 1980 e 1984).
Novo intérprete de Odorico Paraguaçu nesta versão, foi o ator Marco Nanini quem deu o pontapé inicial no projeto ao comprar os direitos da peça, há cerca de quatro anos, chamando depois Arraes para a adaptação (este divide os créditos do roteiro com Cláudio Paiva).
Além das trocas de atores, como José Wilker no lugar de Lima Duarte no papel do cangaceiro Zeca Diabo, houve também radicais mudanças de tom nas caracterizações de personagens-chave. Um caso típico é o das irmãs Cajazeiras (que eram Ida Gomes, Dorinha Duval e Dirce Migliaccio), no filme rejuvenescidas e encarnadas de maneira bem mais atrevida pelas atrizes Andréa Beltrão, Zezeh Polessa e Drica Moraes.
Basicamente, a história continua a mesma. Prefeito populista da cidadezinha de Sucupira, Odorico Paraguaçu (Nanini) desvia recursos públicos e inaugura um cemitério como a grande obra de sua administração. O tempo passa e não morre ninguém e o principal opositor do prefeito, o político e jornalista Vladimir (Tonico Pereira), ganha munição para uma grande campanha através de seu jornal.
É quando Odorico, que cultiva uma relação amorosa com as três irmãs Cajazeira, sabe por elas da existência de um primo, supostamente acometido por uma doença mortal (Bruno Garcia). Quando, mais uma vez, a morte demora, o prefeito resolve reconduzir à cidade o cangaceiro que matou seu antecessor, o famoso Zeca Diabo (José Wilker).
Preocupações com a atualidade da nossa versão levaram, por exemplo, o diretor a mudar o final do filme quando já estava pronto. O final anterior, que é o mesmo da peça original, colocava Vladimir, que a vida toda combateu ferozmente Odorico Paraguaçu (Marco Nanini), lendo um elogio fúnebre à beira de seu túmulo, que finalmente inaugurava o cemitério superfaturado e até então inútil da cidadezinha de Sucupira.
Neste novo final, o jovem jornalista Neco Pedreira (Caio Blat) é visto numa reportagem de televisão que inclui imagens reais da campanha pela volta das eleições diretas, em 1984. No Cine PE, festival que o filme abriu fora de competição, em abril, o diretor justificou esta mudança como sua forma de “responder a um descrédito com a política, mostrando uma terceira via que a peça não tem”.
Somadas todas as mudanças, infelizmente, a conclusão mais forte a que se pode chegar é que não se precisava de uma nova versão neste tom. A cópia perde feio do (s) original (is). Melhor ficar com o Odorico Paraguaçu de Paulo Gracindo.
Copatrocinado pela TV Globo, o filme terá brevemente uma versão em microssérie de quatro capítulos. Se for na mesma linha, não precisaria. Seria ótima uma releitura da história de Dias Gomes que acrescentasse, realmente, uma nova visão. E fosse menos histérica.