20/09/2024

China, século III. O comandante das tropas do reino de Pei, Ziyu, desafia, por sua conta, o general comandante do reino de Yang, na busca de recuperar a cidade perdida de Jing. Isto desagrada ao rei de Pei, que deseja manter as coisas como estão. Na verdade, Ziyu é um homem-sombra, substituindo na vida social o verdadeiro comandante, que se oculta num subterrâneo e arma seus planos políticos.

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Um dos cineastas chineses mais respeitados do cinema moderno, Zhang Yimou volta ao universo das artes marciais como pano de fundo para compor seu drama de época, ambientado na China do século III.
 
Dois reinos, Pei e Yang há muito disputam a primazia que, por ora, parece caber ao último, inclusive pela falta de disposição do atual rei (Zheng Ryan) de reconquistar as perdas de Pei - como a emblemática cidade de Jing.
 
A trama se inicia quando o comandante das tropas de Pei, Ziyu (Deng Chao), tomou a si a tarefa de defender a honra do reino, desafiando por sua conta o general Yang Can (Hu Jun) para um duelo que vale a cidade perdida. Isto irrita sobremaneira o rei, que não deseja mais do que passar os seus dias na ociosidade e em seus acordos suspeitos de gabinete - um dos quais envolve o casamento, contra a vontade, da própria irmã (Guan Xiaotong).
 
Ziyu, no entanto, esconde um segredo - ele não é quem diz ser e sim um homem-sombra do verdadeiro comandante (interpretado também por Chao), que, debilitado por suas muitas lutas, se esconde num subterrâneo, onde treinou seu substituto desde a infância. Na verdade, o jovem foi raptado ainda criança e forçado a este papel com base em muita violência, o que não impede que desempenhe sua missão a contento, contando com a semelhança com o verdadeiro personagem.
 
Atormentado protagonista deste conto de honra, Ziyu vive ainda uma situação ambígua com a esposa do comandante (Sun Li), cuja atração pelo jovem é tão intensa e reprimida quanto a dele, fornecendo a faísca erótica que incendeia a história.
 
No mais, o desenrolar deste drama de época se apóia num belo trabalho de fotografia de Zhao Xiaoding, em tons preto, branco e cinza que espelham o espírito deste universo fechado, masculino, bélico. Muitas batalhas se travarão, várias sob chuva intensa, filmadas com grande elegância e beleza, traço fiel ao estilo do diretor de Herói (2002) e O Clã das Adagas Voadoras (2004). Nelas, valerá a maestria no manejo de lanças e também de um aparentemente inofensivo guarda-chuva, na verdade constituído de uma série de afiadas lanças, disparadas quando este é girado.
 
Há uma sugestão feminista neste mundo machista com a rebeldia da princesa contra os desmandos impostos pelo irmão e também pela cumplicidade silenciosa da mulher do comandante para com seu sombra. Isto não impede, no entanto, que corra muito sangue, numa história de incontornável gravidade e beleza plástica. 
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