16/02/2025
Policial

Até o cair da noite

Para se aproximar de um traficante poderoso, o policial Robert conta com a ajuda de Leni, uma mulher trans em liberdade condicional, que fingirá formar um casal com ele. A história dos dois, no entanto, vem de outros tempos, quando ela ainda se chamava Lenard. Nos cinemas.

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Thea Ehre é a força motriz de Até o cair da noite, tanto que a atriz ganhou o prêmio de interpretação coadjuvante no Festival de Berlim de 2023 por esse trabalho. Não são poucos os momentos em que ela é melhor do que o filme em si. Sua presença na tela é hipnótica, o restante, nem tanto. 

Ela interpreta Leni, uma mulher trans que está em condicional e servirá como parceira de um investigador de polícia, Robert Demant (Timocin Ziegler), que precisa se infiltrar no mundo do crime e se aproximar de um chefão do tráfico, Victor (Michael Sideris). O falso casal começa a fazer aulas de salsa no mesmo lugar onde o investigado também pratica com sua parceira, Nicole (Ioana Iacob).

O que seria apenas uma narrativa policial ganha um complicador a mais, pois Robert e Leni já tiveram um relacionamento romântico no passado, com o qual Robert ainda tem dificuldades de lidar. Ele ainda pensa nela quando ela se chamava Lenard e não consegue aceitar que agora, diante de si, está uma mulher. 

Essa premissa, no filme dirigido por Christoph Hochhäusler, promete uma investigação sobre gênero e identidade no presente. Porém, o roteiro de Florian Plumeyer nem sempre flui como deveria, ou, ao menos, poderia. A combinação entre filme policial e melodrama não é das mais suaves.

A opção por um neo-noir tenta trazer uma urgência e um colorido contemporâneo ao longa. Isso funciona mas, ao mesmo tempo, impede uma compreensão emocional maior dos personagens. Fala-se muito sobre sentimentos, porém, boa parte do tempo isso fica apenas nos diálogos, quando o que se pede é a ação, para que possamos crer nos personagens. 

Leni é a maneira de Robert se aproximar de Victor, que consegue um emprego como motorista do traficante. Ao mesmo tempo, o traficante começa a tentar descobrir a história passada do casal, um elemento no roteiro que não vai a lugar nenhum e não colabora em nada com o todo da narrativa. 

Outro ponto mal resolvido é a sexualidade conflituosa de Robert. A relação dele com Leni, no presente, não é muito convincente, e não há uma química entre os personagens para que acreditemos no seu passado juntos. Quando ele sugere conseguir dinheiro para que ela faça uma cirurgia, é algo ainda mais mal incorporado ao roteiro – soa gratuito e superficial mesmo. 

O que sobra aqui, realmente, é a presença da estreante Ehre, que ganhou merecidamente o prêmio na Berlinale. Quando ela não está em cena, o filme sente falta dela, pois ela é o que há de melhor a oferecer na tela. 

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