O ato da performance se tornou um gesto tão comum de nossa época que se transformou até em verbo: performar. Isso se torna ainda mais sintomático numa época em pessoas performam nas redes sociais – e não são apenas dancinhas no Tik Tok, mas personagens que assumem para se expor aos outros. Corpo presente, de Leonardo Barcelos investiga, num plano artístico, como o corpo se torna a ferramenta fundamental para esse processo.
Transitando entre imagens e o áudio de depoimento das personalidades Suely Rolnik, Ailton Krenak, Carlos Mendonça, Diana Corso, Jo Clifford, Leda Maria Martins e Erika Hilton, o documentário é, em si, uma performance. O resultado é algo sensorial que transita entre o cinema poético e uma instalação artística marcada por imagens oníricas e pensamentos metafísicos.
Ao discutir o papel do corpo humano como objeto político, o filme é carregado de simbolismos e, no fundo, um tanto hermético. Enquanto há imagens bonitas, é preciso certa dose de paciência ou interesse no tema para atravessar os 70 minutos desse filme tão exigente. Um curta talvez fosse mais eficiente.
Como é típico, também, da contemporaneidade, momentos históricos, discursos e estilos artísticos são colocados lado a lado como frutos de um mesmo impulso. Esvazia o sentido histórico das coisas, mas, no fundo, é, de certa forma, um movimento típico da performance, que é capturada no seu momento de execução, e nunca repetida da mesma maneira.