01/05/2024

A descoberta do Brasil profundo e memórias de Antonio Candido

Na competição brasileira, o filme Diamantes, de Daniela Thomas, Sandra Corveloni e Beto Amaral, revela histórias de mulheres numa região de garimpo em Minas Gerais. E o documentário Antonio Candido, Anotações Finais, de Eduardo Escorel, traz trechos dos inéditos cadernos de memórias do crítico literário falecido em 2017.

Competição Brasileira

Diamantes

A vida numa região do garimpo de diamantes é o tema do filme dirigido por Daniela Thomas, Sandra Corveloni e Beto Amaral. Mulheres da região contam suas histórias de vida naquele lugar, localizado em Minas Gerais. Há uma forte influência de Eduardo Coutinho, mas Coutinho era único em seu método e sua capacidade de compreensão e extração de depoimentos.
Atriz premiada, Corveloni estreia como diretora, ao lado de Thomas, com quem trabalhou na ficção Linha de Passe (codirigido por Walter Salles e que rendeu à atriz o prêmio de interpretação em Cannes). A elas se junta Amaral, que tem no currículo o documentário Para onde voam as feiticeiras.

Localizada no alto da Serra do Espinhaço, São João da Chapada é uma cidade que tem em si as marcas do garimpo. O filme busca uma vertente pouco explorada: a posição e o papel das mulheres nesse lugar. Sempre são mais conhecidas as histórias dos homens que vão para o garimpo, mas o documentário dá voz às mulheres, apagadas nesse processo.

Há o depoimento, por exemplo, de Fraíldes, ex-diretora da escola local, onde estudaram outras duas entrevistadas do filme, Maria Helena Dias, mais conhecida como Mantega, e Sabrina. A primeira é antiga conhecida de Thomas e Corveloni, uma vez que esteve no curta da cineasta De Vota, no qual a moradora da cidade atua sob preparação de Corveloni. Já Sabrina é uma mulher lésbica, que tenta construir sua identidade num ambiente marcado pelo machismo.

Um episódio na escola envolvendo Mantega, que levou uma pedrada na cabeça, torna-se uma questão central no filme. São vários pontos de vista que se contradizem e constroem uma narrativa, colocando em xeque os pontos de vista.

As entrevistas entram num campo minado. As entrevistadas se abrem, contam histórias bastante pessoais, e é de se pensar se o documentário não se torna apenas um artefato explorador dessas mulheres. (Alysson Oliveira)

Sessões

Rio de Janeiro

Estação Net de Cinema Botafogo - 10/04/2024 às 20h30

Estação Net de Cinema Rio - Sala 5 - 11/04/2024 às 17h30

São Paulo

Espaço Itaú de Cinema Augusta - 12/04/2024 às 20h30

Cinemateca Brasileira - Sala Grande Otelo - 13/04/2024 às 14h30

Programas Especiais

Antonio Candido, Anotações Finais

A notável lucidez do professor, sociólogo e crítico literário Antonio Candido (1918-2017)sobressai deste filme, que se debruça em seus inéditos cadernos de memórias, focalizando suas reflexões em seus anos finais, entre 2015 e 2017. Suas lembranças pessoais, em que se destaca a saudade imensa da mulher, companheira de toda a vida, Gilda Mello e Souza (falecida em 2005), as decepções políticas num período em que o Brasil mergulhava nos impasses do impeachment de Dilma Rousseff e nos anos Temer/Bolsonaro, e uma fina observação do cotidiano saltam dessas páginas íntimas, compartilhadas aqui com toda a delicadeza e ganhando a narração cuidadosa do ator Matheus Nachtergaele. É uma digna homenagem a um dos maiores intelectuais que o País produziu, cuja obra não cessa de nos iluminar. (Neusa Barbosa)

Sessões

São Paulo

Cinemateca Brasileira - Sala Grande Otelo - 10/04/2024 às 17h