Yorgos Lanthimos espalha seu veneno em Kinds of Kindness
- Por Neusa Barbosa, de Cannes
- 18/05/2024
- Tempo de leitura 2 minutos
Cannes - A roda de Cannes não para e o diretor grego Yorgos Lanthimos já passou por aqui para espalhar seu veneno lento no concorrente à Palma Kinds of Kindness (Tipos de Gentileza). Lanthimos, cujo Pobres Criaturas (2023) venceu 5 Oscars, depois de lançar sua carreira internacional com A Favorita (2018), volta às origens, na Grécia, retomando a parceria com Efthimis Filippou (de Dente Canino), e compondo um filme dividido em três histórias impregnadas de referências mitológicas e momentos bizarros, quando não francamente cruéis - o que é uma marca no estilo do diretor de Alpes (2012) e O Lagosta (2015).
Nos três episódios, Lanthimos trabalha com um mesmo grupo de atores, alternando-se nos papéis em narrativas que têm algo em comum entre si, mas se desenvolvem autonomamente - e têm qualidade bem diferente.
A que funciona melhor do que todas é a primeira, “A morte de RMF”, em que Jesse Plemons - estreando nos filmes de Lanthimos e candidatíssimo ao prêmio de melhor ator - interpreta Robert Fletcher, um homem rico, casado com Sarah (Hong Chau), e cuja vida é dirigida nos mínimos detalhes, da dieta diária à sexualidade, por seu chefe (Willem Dafoe) - que atua como os clássicos deuses gregos, impondo suas leis não raro absurdas aos mortais. Quando Robert se recusa a cumprir uma estranha tarefa determinada por ele, toda a rotina de Robert desaba, desencadeando uma série de tragédias.
Na história seguinte, “RMF está voando”, Plemons é um policial cuja mulher (Emma Stone), uma pesquisadora, desapareceu numa expedição. Quando ela volta, manifesta reações que ele não reconhece, tornando-se obcecado pela idéia de que ela é uma outra pessoa. Uma obsessão que conduz a uma rota de sacrifícios para ela.
O aspecto sacrificial retorna no terceiro episódio, “RMF come um sanduíche”, o mais desestruturado e insatisfatório de todos, em que Emma Stone interpreta uma mulher que abandonou marido (Joe Alwyn) e filha (Mera Benoit) para aderir a uma espécie de seita, que procura uma dupla de gêmeas em que uma delas, supostamente, teria o poder de fazer pessoas ressuscitarem. Um par de gêmeas (interpretadas por Margaret Qualley) pode ou não ser essa dupla.
Evidentemente, nessa altura de sua carreira, Lanthimos tem mais condições financeiras de produzir um filme elegante, com cenários, atores e fotografia à altura de sua ambição, mas a verdade é que, como em todo filme de episódios, há um certo desequilíbrio - especialmente no último, que parece ter tentado abarcar muitas direções. Em todo caso, é uma obra que não deve passar despercebida e pode muito bem abocanhar algum prêmio importante - incluindo direção e roteiro.
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