18/03/2025

Cannes começa com filme de época francês e tem presença discreta do Brasil


O Brasil tem seis representantes no próximo Festival de Cannes, que começa no dia 16 de maio, com a exibição oficial do drama histórico francês Jeanne du Barry
(foto ao lado), da diretora Maïwenn. Na competição principal, disputando a Palma de Ouro, está o cineasta cearense Karim Aïnouz, com a produção internacional Firebrand (foto abaixo)- um outro filme de época que retrata o casamento do rei Henrique VIII (Jude Law) e sua última noiva, Catherine Parr (Alicia Vikander). O festival prossegue até 27 de maio, noite das premiações.


Aïnouz, que venceu em 2019 o principal prêmio da mostra Un Certain Regard com seu filme A Vida Invisível, terá pela frente competidores como Wim Wenders, Ken Loach, Hirokazu Kore-eda, Todd Haynes, Nuri Bilge Ceylan e outros. Confira abaixo a lista completa dos filmes da seleção oficial.

Na seção Un Certain Regard, também competitiva, foi selecionado o novo filme de João Salaviza e Renée Nader Messora, a coprodução luso-brasileira A Flor do Buriti. A dupla de diretores já havia sido premiada em 2018 na mesma seção Un Certain Regard, quando receberam o prêmio especial do júri com Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos. Como naquele filme, neste novamente com os Krahô, no norte do Tocantins, o novo trabalho de Salaviza e Messora resgata um dos temas mais urgentes da atualidade: a luta pela terra e as diferentes formas de resistência implementadas pela comunidade da aldeia Pedra Branca.


“O filme nasce do desejo em pensar a relação dos Krahô com a terra, pensar em como essa relação vai sendo elaborada pela comunidade através dos tempos. As diferentes violências sofridas pelos Krahô nos últimos 100 anos também alavancaram um movimento de cuidado e reivindicação da terra como bem maior, condição primeira para que a comunidade possa viver dignamente e no exercício pleno de sua cultura”, explica a codiretora Renée Nader Messora.

A Flor do Buriti atravessa os últimos 80 anos dos Krahô, trazendo para a tela um massacre ocorrido em 1940, no qual morreram dezenas de pessoas. Perpetrado por dois fazendeiros da região, as violências praticadas naquele momento continuam a ecoar na memória das novas gerações. As manifestações em Brasília durante a votação do Marco Temporal e as ameaças que a Terra Indígena vem sofrendo nos últimos anos - roubo de animais silvestres, extração de madeira, reativação de uma barragem ilegal - são absorvidas pelo filme, em uma narrativa onde passado e presente coexistem e formam um corpo só.

Semana da Crítica


Levante, primeiro longa da diretora brasileira Lillah Halla, compete na Semana da Crítica do Festival de Cannes, seção que se desenrola entre 17 e 25 de maio.

Coprodução entre o Brasil, Uruguai e França, o filme acompanha a história de Sofia, uma promissora jogadora de vôlei que, às vésperas de uma competição crucial para seu futuro, descobre-se grávida. Ela quer abortar ilegalmente mas se vê no centro de uma disputa com um grupo fundamentalista, decidido a impedi-la a todo custo.

A diretora antes já havia competido na Semana da Crítica, em 2020, com o curta Menarca, depois premiado em diversos festivais internacionais, como Tirana e Toulouse, além do nacional Curta Cinema. Atualmente, ela prepara um segundo longa, Flehmen.

Lillah concorre com outros seis longas na Semana: Il Pleut dans la Maison, de Paloma Sermon-Daï (Bélgica/França); Inshallah Walad, de Amjad Al Rasheed (Jordânia/França/Arábia Saudita/Catar); Jam, de Jason Yu (Coréia do Sul); Le Ravissement, de Iris Kaltenbäck (França); Lost Country, de Vladimir Perisic (França/Sérvia/Croácia/Luxemburgo); e Tiger Stripes, de Amanda Nell Eu (Malásia/Taiwan/Singapura/França/Alemanha/Holanda/Indonésia/Catar).

Documentários em dose dupla

Já premiado em Cannes em 2019 com um Prêmio do Júri pelo filme Bacurau, o diretor pernambucano Kléber Mendonça Filho exibirá, fora de competição, o documentário Retratos Fantasmas. O filme tem o centro da cidade do Recife como personagem principal, sendo um espaço histórico e humano, revisitado através dos grandes cinemas que serviram como espaços de convívio durante o século XX. Foram lugares de sonho e de indústria, e a relação das pessoas com esse universo é um marcador de tempo para as mudanças dos costumes em sociedade.

“Palácios de cinema em centros de cidades são comuns a muitos outros lugares do mundo, mas ocorre que eu sou pernambucano, recifense, e parti para mostrar essa geografia da cidade a partir de um ponto de vista pessoal”, aponta Kleber. “Recife é também uma cidade que ainda desfruta de um cinema espetacular como o São Luiz, um palácio de 1952. Hoje, são poucas as cidades no mundo que ainda sabem o que isso representa”, comenta o diretor, em relação aos cinemas de rua.

Cerca de 60% do documentário é composto por material de arquivo, com fotografias e imagens em movimento encontradas em acervos pessoais, na produção pernambucana de cinema, de televisão e de instituições como a Cinemateca Brasileira, o Centro Técnico Audiovisual (CTAV) e a Fundação Joaquim Nabuco.

Outro documentário, este parte integrante da seção Clássicos, homenageia o diretor Nelson Pereira dos Santos (1918-2018). O diretor paulista, um dos grandes nomes do Cinema Novo, que concorreu à Palma de Ouro com Vidas Secas (1964), Azyllo Muito Louco (1970) e Amuleto de Ogum (1975), é o protagonista de Nelson Pereira dos Santos - Vida de Cinema, das diretoras Aida Marques e Ivelise Ferreira, que irão prestigiar a sessão na Croisette.

La Cinef

Entre os 16 curtas na também competitiva seção La Cinef, contemplando filmes de formatura em escolas de cinema, inclui-se um outro brasileiro, Solos, de Pedro Vargas, formando da FAAP. Os candidatos desta seção foram escolhidos entre 2.000 filmes enviados por escolas de cinema do mundo todo. Dos 16 finalistas,10 filmes são dirigidos por mulheres. 14 são ficções e 2 são animações. Pela primeira vez, esta seção contempla um filme do Marrocos.

Já os 11 curtas da competição, que vale uma das Palmas de Ouro, foram selecionados entre 4.288 concorrentes.

Em ambos os casos, a premiação será entregue pela cineasta húngara Ildikó Enyedi (vencedora do Urso de Ouro em Berlim 2017 por Corpo e Alma), presidente deste júri. No caso da competição, o prêmio será entregue na noite de encerramento, 27 de maio. No caso de La Cinef, na quinta (25/5), no Théâtre Buñuel, quando serão exibidos os premiados.

O cartaz do ano

A atriz Catherine Deneuve ilustra o cartaz da 76ª edição do Festival de Cannes, que reproduz uma cena das filmagens de A Chamada do Amor, de Alain Cavalier, na praia de Pampelonne, perto de Saint-Tropez, na Côte D’Azur, em junho de 1968.

Naquele filme, ela interpretava Lucille, uma jovem fútil e superficial, com gosto pelo luxo e a riqueza mas também cheia de paixão pela vida,

Quatro anos antes, a atriz protagonizara Os Guarda-Chuvas do Amor, de Jacques Demy, vencedor da Palma de Ouro em 1964. No ano seguinte, Repulsa ao Sexo, de Roman Polanski, ganhador do Urso de Ouro em Berlim. Seguiram-se outros sucessos na carreira desta atriz extraordinária, como A
Bela da Tarde
, de Luis Buñuel, O Último Metrô, de François Truffaut, Indochina, de Régis Warnier, O Convento, de Manoel de Oliveira, 8 Mulheres, de François Ozon, Um Conto de Natal, de Arnaud Desplechin e dezenas de outros títulos que comprovam não só o talento e a versatilidade desta intérprete, este ano completando 80 anos.

Abaixo, a lista completa da seleção oficial de Cannes:

FILME DE ABERTURA (fora de competição): Jeanne du Barry, de Maïwenn

COMPETIÇÃO

Firebrand, de Karim Aïnouz

Club Zero, de Jessica Hausner

The Zone of Interest, de Jonathan Glazer

Fallen Leaves, de Aki Kaurismaki

Les Filles D’Olfa (Four Daughters), de Kaouther Ben Hania

Asteroid City, de Wes Anderson

Anatomie d’Une Chute, de Justine Triet

Monster, de Hirokazu Kore-eda

Il Sol dell’Avvenire, de Nanni Moretti

L’Été Dernier, de Catherine Breillat

Kuru Otlar Ustune (About Dry Grasses), de Nuri Bilge Ceylan

La Chimera, de Alice Rohrwacher

La Passion de Dodin Bouffant, de Tran Anh Hun

Rapito, de Marco Bellocchio

May December, de Todd Haynes

Jeunesse, de Wang Bing

The Old Oak, de Ken Loach

Banel et Adama, de Ramata-Toulaye Sy (primeiro filme)

Perfect Days, de Wim Wenders

Black Flies, de Jean-Stéphane Sauvaire

Le Retour, de Catherine Corsini


UN CERTAIN REGARD


FILME DE ABERTURA: Le Régne Animal, de Thomas Cailley

A Flor do Buriti (Cowrã), de João Salaviza e Renée Nader Messora

Los Delincuentes, de Rodrigo Moreno

How to have sex, de Molly Manning Walker (primeiro filme)

Goodbye Julia, de Mohamed Kordofani (primeiro filme)

Kadib Abyad (The mother of all lies), de Asmae El Moudir

Simple comme Sylvain, de Monia Chokri

Los Colonos, de Felipe Gálvez (primeiro filme)

Omen, de Baloji Tshiani (primeiro filme)

The Breaking Ice, de Anthony Chen

Rosalie, de Stéphanie di Giusto

The new boy, de Warwick Thornton

If only I could hibernate, de Zoljargal Purevdash (primeiro filme)

Hopeless, de Kim Chang-hoon (primeiro filme)

Terrestrial Verses, de Ali Asgari e Alireza Khatami

Rien à perdre, de Delphine Deloget

Les meutes, de Kamal Lazraq (primeiro filme)

Only the River Flows, de Wei Shujun

FILME DE ENCERRAMENTO: Une Nuit, de Alex Lutz (fora de competição)

FORA DE COMPETIÇÃO

Indiana Jones e o Chamado do Destino, de James Mangold

Killers of the Flower Moon, de Martin Scorsese

The Idol, de Sam Levinson

Cobweb, de Kim Jee-woon

L’Abbé Pierre - Une Vie de Combats, de Frédéric Tellier

SESSÕES DA MEIA-NOITE

Kennedy, de Anurag Kashyap

Omar la Fraise, de Elias Belkeddar

Acid, de Just Philippot

Hypnotic, de Robert Rodriguez

Project Silence, de Kim tae-gon

CANNES PREMIÉRE

Kubi, de Takeshi Kitano

Bonnard, Pierre et Marthe, de Martin Provost

Cerrar los Ojos, de Victor Erice

Le Temps d’Aimer, de Katell Quillévéré

Perdidos en la Noche, de Amat Escalante

L’Amour et les Forêts, de Valérie Donzelli

Eureka, de Lisandro Alonso


SESSÕES ESPECIAIS

Retratos Fantasmas, de Kleber Mendonça Filho

Man in Black, de Wang Bing

Occupied City, de Steve McQueen

Anselm (Das Rauschen der Zeit), de Wim Wenders

Little Girl Blue, de Mona Achache

Bread and Roses, de Sahra Mani

Le Théorème de Marguerite, de Anna Novion